O foco da missão


Ao lermos o texto sobre a cura de um leproso (Mc 1.40-45), somos impactados pelas idéias e palavras relacionadas a esse evento. Creio que os gestos falam por si: “Jesus estendeu a mão e o tocou”. Outro movimento de impacto é o gesto do leproso ao pedir de joelhos: “Se quiseres...”. Há grande coerência entre a linguagem verbal e a linguagem corporal. Depois de curá-lo, Jesus o despede e lhe pede que não conte a ninguém. Incrível esse pedido de Jesus, pois para aquele homem seria quase impossível não divulgar uma experiência de transformação como essa. Esse milagre — como os outros — é a manifestação do poder de Deus. É um sinal de que o reino chegou por meio de Jesus. Estamos diante de um fato extraordinário que confirma o anúncio: o reino de Deus já chegou em palavra e ação.

O Evangelho de Marcos enfatiza as ações de Jesus e não tanto os seus ensinamentos. Um aspecto importante da missão de Jesus é a integração entre a palavra e a ação. Estas chegam juntas como sinais visíveis da nova realidade trazida pelo Messias. Além disso sua prática de missão traz um elemento de surpreendente novidade, pois mostra aqueles que estão à margem da sociedade como centro de sua preocupação e atenção. Quando começou a atuar a partir da periferia Jesus fez uma opção que criou um paradigma. Os que estavam ali eram o centro de sua missão.

Muitas vezes nossa prática de missão possui um foco inadequado. Quando não estamos olhando da mesma forma (e na mesma direção) que Jesus, para quem a periferia é parte do seu centro de preocupação e ação missionária, caímos na armadilha de considerar como centro de nossa missão aquilo que nos leva para: o centro da fama, do poder e das expressões humanas de glória. Neste caso, nossa prática de missão reforça o modo de pensar vigente, adotando como foco aquilo que o mundo considera o centro e excluindo aquilo que o mundo considera periferia. Jesus tem um foco ampliado, em que a periferia também está no centro de sua missão.

Como trabalhar com essa perspectiva numa geração que tem como centro seu próprio umbigo, que quando levanta a cabeça vê o aeroporto como opção de saída, a tão sonhada América, o Primeiro Mundo? A grande ironia é que, enquanto olhamos os aviões, não damos atenção às casas ao redor do aeroporto, onde as pessoas não vivem como deveriam viver.

Outro elemento fundamental em nosso foco de missão é a maneira como a tornamos real; o nosso jeito de fazê-la. Este encontro de Jesus com o leproso nos indica aspectos importantes sobre a maneira como podemos realizar nossa missão. A lepra, na Bíblia e na cultura antiga, representa uma série de doenças cutâneas pelas quais os judeus sentiam aversão. Vinha acompanhada de uma impureza cerimonial que classificava a pessoa como imunda; e por ser imunda ela sofria as conseqüências em três dimensões: primeiro, era retirada da vida em sociedade; segundo, era impedida da presença de Deus no templo porque não podia conviver com seus compatriotas naquele recinto; e finalmente levava sobre si o estigma de ser imunda, contagiosa. Isso não mudou muito em nossos dias. Vivemos numa sociedade que continua produzindo “excluídos”, “leprosos”, todos aqueles que representam algum tipo de risco e incômodo.

Alguns manuscritos gregos dessa passagem bíblica dizem que Jesus se enche de raiva quando vê tal situação. Uma possível explicação para isso seria a revolta por ver todo o mal que se pode fazer a uma pessoa, transformando-a em uma não-pessoa. Tal situação o ofende, o irrita. Por isso, quando cura esse homem Jesus o adverte que volte ao templo e dê testemunho de sua sanidade, como forma de anúncio a um sistema social e espiritual que não promove a cura, somente declara quem pode participar — ou não — da vida social. O leproso se transforma em testemunho vivo de que Jesus estava fora da cidade, à margem da sociedade, mudando o centro de referência. Da periferia vem a boa nova de redenção; foi na periferia que Jesus o encontrou e curou.

Não poucas vezes, quando um irmão compartilha uma necessidade, tem por resposta o silêncio das “mãos recolhidas”. Ninguém se mobiliza em seu favor. Dizemos ter muita compaixão, mas o tipo de compaixão que “espiritualiza” a pessoa e o seu problema, fazendo-nos ver este problema de forma equivocada uma vez que não compartilhamos do realismo apresentado pelo Messias. Jesus fala, toca e lhe dá atenção. Estes três elementos — falar, tocar e dar atenção — são fundamentais, e, quando não são considerados, levam à formação de uma massa de excluídos e marginalizados.

Jesus fez assistencialismo ou produziu desenvolvimento? O que ele fez foi uma mudança profunda. Uma pessoa considerada não-produtiva tornou-se novamente produtiva. Imaginemos o significado disso. Um homem desempregado agora pode voltar a ser empregado e a ter recursos para manter sua família. Isso influencia sua qualidade de vida; é uma mudança radical. Nesse sentido, cabe destacar a diferença entre assistência e assistencialismo. A assistência não é má em si mesma. Há situações que exigem assistência mais do que palavras. Já o assistencialismo não vê além da necessidade e, portanto, não almeja nada mais.

Chegamos ao terceiro ponto, que é a observação dos possíveis modelos de missão que surgem do falar, tocar e dar atenção. Jesus restaura o leproso por sua compaixão, por seu poder e de forma plena. Restaura sua saúde física e o reintroduz à vida da comunidade, eliminando, assim, seu sentido de abandono. Jesus permite ao leproso recuperar sua auto-imagem, dando-lhe saúde emocional. E confirma a sua fé, restaurando-lhe o acesso ao templo e a comunicação com seus irmãos.

O modelo concreto que temos aqui parte do fato que Jesus exerce sua compaixão ao falar-lhe, tocar-lhe e dar-lhe atenção. Uma compaixão como a de Jesus nos liberta dos preconceitos e nos faz perceber a degradação, a morte espiritual e física dos excluídos. É uma compaixão que não se deixa enganar por essa primeira percepção, mas vai além, reconhecendo em cada criatura o valor de ser imagem e semelhança de Deus. Quando olhamos com compaixão, não vemos somente como o outro está, porém somos capazes, também, de perceber como ele poderia (ou deveria) estar.

Essa compaixão de Deus por todos não nos permite fazer opções exclusivistas e seletivas, que nos levem a um ministério tranqüilo. Nosso foco de missão deve ser tão abrangente como o de Jesus, senão podemos cair na armadilha da comodidade. É muito atraente evangelizar os segmentos socias formados por aqueles que não bebem de maneira escandalosa, não fumam, não jogam e, além disso, são grandes “amigos” do evangelho (e ainda podem dar “boas” ofertas). Existem muitas pessoas materialmente privilegiadas vivendo alguma forma de exclusão e sofrimento. Mas tenho observado que os ministérios direcionados a esses privilegiados, com o tempo, correm sério risco de se amoldarem à mentalidade burguesa. Com isso, diminuem o seu foco de missão e acabam por fazer uma opção preferencial invertida (para recordar o famoso debate da década de 70 e 80 sobre a opção preferencial pelos pobres).

Tudo isso pode levar a uma prática de missão que não desafia os ricos e que acaba por acariciar suas consciências. O mesmo risco de acomodação ameaça os ministérios dirigidos aos pobres em que a preocupação maior não é o serviço real e a proclamação das boas novas, mas sim a publicidade que busca legitimar seu apelo e suas práticas ministeriais. Nesse sentido, tais ministérios usam os pobres. Há problemas nas duas direções. Não temos outra opção senão proclamar o Evangelho todo para o ser humano todo, homens e mulheres.

Precisamos nos perguntar sobre os desafios que esses três elementos do foco da missão nos apresentam. Quantos ministérios de consolação podem nascer pelo “falar”? Aqui está a consolação, a proclamação e a presença profética. Quantos podem nascer pelo “tocar”? Quantos podem nascer pelo ato de dar atenção, abrindo espaço para aqueles que “não são”? É por isso que falamos de muitos modelos de serviço que podem nascer destas três perspectivas.

Pensemos em nós mesmos, em nossa própria vida. Quando nos voltamos para os excluídos, foco de nossa missão, começamos a descobrir em nossa própria vida áreas que estão marginalizadas, isoladas, excluídas, esquecidas e enterradas. Então descobrimos que nós também precisamos do toque curador do Senhor nessas nossas “lepras”. Carecemos desse toque para podermos olhar com compaixão, que nos leve a trabalhar com outro foco. Um foco mais preocupado com a periferia e com a inclusão, numa prática criativa e responsável com nossos modelos de serviço.

Nossa geração sofre uma crise profunda entre o que vê e o que deseja. O mal “prospera”. E, devido ao conceito de fé que manejamos, não conseguimos ver além dessa realidade. Assim, corremos o risco de nos tornar cínicos, dizendo: “Se aqui estão os fracos e ali os fortes, vou com estes últimos”. Uma geração pragmática e hedonista não achará que valha a pena falar dos e aos excluídos. Diante disso, devemos ter cuidado com o foco de nossa missão. Será que estamos sendo influenciados pela corrente de nosso tempo, esquecendo-nos do sacrifício que a missão implica?

Todo cristão é chamado à missão. Ela é nosso estilo de vida. Portanto, não se trata só de ser sacrificial na missão, mas sim de ser sacrificial na maneira de viver. Não se trata de nos acomodarmos a este século, mas sim de nos mantermos fiéis ao chamado, ainda que não venhamos a ser famosos ou aceitos. Isso não quer dizer que devemos negar a dimensão do prazer e da alegria na prática de nossa missão, como diz o autor de Eclesiastes. Precisamos ensinar a festa aos que não têm festa e a fé aos que não têm fé. Integrar fé e festa, criando experiências de intercâmbio, colocando-nos em situações vivenciais que ampliem nossa visão e nosso serviço, para a glória de Deus.


Ziel Machado é pastor da Igreja Metodista Livre e trabalha há 25 anos no ministério estudantil. É secretário da CIEE para a América Latina.

A responsabilidade social das igrejas


Wildo Gomes dos Anjos é fundador e presidente da Missão Vida, instituição filantrópica que há 25 anos recupera mendigos. Estudou Teologia no Seminário Teológico Cristão Evangélico e é pastor da Igreja Evangélica Vida, fundada há 12 anos com o objetivo de integrar ex-mendigos à sociedade e ao Corpo de Cristo. Sua larga experiência na área social o tem levado a ministrar em congressos e igrejas no Brasil e também no exterior.

Nesta entrevista ele fala de assuntos como caridade, missão integral, ação e responsabilidade social na Igreja, compartilhando os resultados dos últimos três anos e dando mais detalhes sobre aqueles que mantêm financeiramente a Missão. Confira!

Os dicionários de administração definem responsabilidade social como “aquela que as organizações assumem em relação ao pagamento de salários dignos, arrecadação correta de carga tributária, aumento da qualidade de vida, ou qualquer outro fator inerente que possa agregar benefício para a sociedade como um todo”. Como o senhor definiria ou descreveria este termo sob a ótica cristã?
Wildo - Responsabilidade social é tudo aquilo que entendemos que devemos fazer para tornar o mundo mais justo e igualitário no que diz respeito aos mais fracos, pobres e necessitados.

Débora Fahur, do Vale da Benção, declarou em uma entrevista ao Instituto Jetro que “há ainda um número muito grande de igrejas e denominações totalmente alheias às necessidades sociais e à forma de agir no enfrentamento a pobreza e da miséria.” Qual a sua visão sobre esta situação? Quais são as causas desta aparente indiferença?
Wildo - Eu discordo da Débora Fahur, do Vale da Bênção. Eu diria que a maioria das igrejas está mesmo envolvida em algum tipo de ação social. Se a Igreja Evangélica no Brasil deixasse de realizar o seu trabalho, que muitas vezes é feito de forma anônima e silenciosa, o povo brasileiro sentiria grandemente. Há 25 anos, quando iniciei o trabalho da Missão Vida, ação social era coisa para espírita e comunista, mas isso, graças a Deus, tem mudado gradativamente. Eu daria nota seis à visão das igrejas chamadas históricas (tradicionais). As igrejas pentecostais e neo-pentecostais receberiam nota quatro. As igrejas que hoje estão envolvidas com células, e G-12 principalmente, são as que têm a visão mais deficitária, pois têm um trabalho muito voltado para si mesmo, esquecendo-se que todos fazemos parte de um mesmo time e quando alguém faz um “gol”, independente da denominação, é o Reino de Deus que ganha. Mesmo diante deste quadro, que ainda não é o ideal, eu diria que 80% das igrejas têm algum tipo de ministério voltado para os carentes, seja para os domésticos da fé ou para população de um modo geral.

O conceito de caridade ainda perdura quando se pensa no social? Isto dificulta a ação social da igreja e entidades afins?
Wildo - Eu pessoalmente penso que ação social também é caridade. A Palavra de Deus nos diz em Marcos 6:34: “E Jesus, vendo a multidão, compadeceu-se dela”. Se Jesus, que era Deus, precisou ver a necessidade das pessoas para sentir compaixão, quanto mais nós, seres humanos. O que move as pessoas a terem uma atitude positiva diante da dor e do sofrimento é, sem dúvida, o sentimento de caridade e amor ao próximo, mesmo que às vezes, elas mesmas não consigam identificar isso dentro si. Todos nós somos bons e ruins ao mesmo tempo e se permitirmos esse lado bom pode aflorar.

Segundo o Pr Josivaldo de França Pereira, “evangelização e responsabilidade social são partes integrantes da missio Dei, portanto, inseparáveis e indispensáveis na missão integral da Igreja de Jesus Cristo no mundo e para o mundo”. Como o senhor entende que esta responsabilidade deveria ser praticada pelas igrejas?
Wildo - Jesus nunca viu as pessoas apenas como um espírito. Ele sempre tratou o homem como um ser integral: corpo, alma e espírito. Pode ser que em países de primeiro mundo, como Suíça, Suécia, Finlândia, ação social não seja tão premente, mas num país miserável como o Brasil, é impossível pensar em alcançar as pessoas pobres sem termos uma estratégia para o homem todo. Às vezes nós pensamos em grandes coisas, e nos sentimos impotentes em não poder realizá-las, mas mesmo as igrejas menores e mais pobres podem desenvolver ações que podem mudar de forma significativa a vida das pessoas. Pequenas atitudes, muitas vezes, fazem toda a diferença. Quando muitos vêem o tamanho da Missão Vida hoje, dizem que se tivessem uma estrutura como a nossa poderiam fazer algo em sua cidade ou estado. Mas elas se esquecem que eu não comecei com tudo que eu tenho hoje.

Quais os principais resultados a Missão Vida têm alcançado? Quem são os seus principais colaboradores na caminhada?
Wildo - Comecei distribuindo alimentos nas ruas, construí com meus próprios recursos uma casa para abrigar 12 homens, que depois foi ampliada para 20, 60, 80, 120. Atualmente temos 320 leitos e 73 missionários em tempo integral. Nos últimos três anos servimos quase 1.200.000 refeições, prestamos 77.000 atendimentos médico, odontológico e psicológico, e tivemos a alegria de ver 97 ex-mendigos se formando nos nossos cursos bíblicos como obreiros e pastores, além de centenas de crianças e famílias que foram atendidas. Ver alguém andando com suas próprias pernas e saber que Deus usou você, apesar de você, traz grande alegria.

Qual a relação da Missão Vida com as grandes empresas? Sabe-se que atualmente os financiadores estão cada vez mais informados e exigentes em relação ao retorno social de suas verbas...
Wildo - Costumo dizer que missão e ação social se fazem com promessa dos ricos e dinheiro dos pobres. A Missão Vida não tem nenhum grande mantenedor. Cerca de 85% dos nossos colaboradores doam R$ 12,00 por mês. Temos apenas seis empresas que participam regularmente e nenhuma delas com uma grande soma em dinheiro. Quando vejo alguma instituição contando que conseguiu um grande colaborador eu me pergunto: “Senhor, por que a dificuldade em termos a mesma experiência?”.

Como o senhor concilia o trabalho pastoral com as demandas oriundas de sua atuação na Missão Vida? De que forma a sua igreja se relaciona com a Missão?
Wildo - O meu trabalho social é pastoreio, quando eu recolho alguém na rua, aconselho, oro, levo para o Centro de Recuperação, ajudo a curar suas feridas físicas e emocionais ou prego um sermão, isso é sacerdócio. Infelizmente muitos pastores perderam, há muito tempo, o contato com os problemas e sofrimento das pessoas. Atendem apenas nos gabinetes, passam horas e horas lendo e estudando, preocupados em pregar uma boa mensagem no domingo. Creio que todos os pastores devem separar um bom tempo para oração e estudo, mas estar em contato com as pessoas tem que ser prioridade em nossas vidas. A Igreja que eu pastoreio no momento foi fundada há 12 anos com o objetivo de integrar ex-mendigos à sociedade e ao Corpo de Cristo. Hoje nós temos uma freqüência média superior a 180 ex-mendigos e possivelmente o mesmo número de pessoas que nunca tiveram problemas com álcool e drogas, nem tão pouco mendicância. Temos como membro de nossa igreja: empresários, profissionais liberais, professores universitários, jovens e famílias, e eu fico maravilhado de ver como estas pessoas compreendem e se completam. Essa é a beleza do corpo de Cristo. Apesar de ser uma igreja pequena e não ter nenhuma pessoa milionária, nossa Igreja é a maior mantenedora individual da Missão Vida. E não só da Missão mais de nove agências e missionários que temos o privilégio de ajudar financeiramente.

Com base na experiência acumulada com mais de 25 anos de atuação social, o que o senhor diria a pastores e líderes que sonham em estruturar de forma prática a ação social de suas igrejas?
Wildo - Comece. Mesmo de que uma forma simples. Tenham fé e acreditem de todo o coração. Deus é o grande interessado em alcançar todas as pessoas. Nós somos apenas meros instrumentos e, quando nós nos colocamos no caminho, Deus sempre nos dá meio, pessoas, recursos e condições de realizar os Seus sonhos.

Transformando a sociedade a partir da igreja local


Encontro de Filiados RENAS, São Paulo, 26/03/10 Atos 17.1-9

“Estes que têm transtornado o mundo chegaram também aqui” (v. 6b). Foi esta a denúncia sofrida pela igreja em Tessalônica perante as autoridades da cidade. Os perseguidores procuravam especialmente Paulo e Silas, que estavam há pelo menos 15 dias na cidade proclamando o evangelho e, consequentemente, subvertendo a (des)ordem religiosa, social, econômica e política. Porque é isso que provoca a mensagem de Cristo: radical e ampla transformação. Não encontrando os dois missionários, os acusadores judeus conduziram Jason e outros irmãos da igreja nascente em Tessalônica às autoridades.

Algumas perguntas nos ajudam a aprofundar o entendimento do texto.

1. QUEM SÃO “ESTES”?

Estes são aqueles que, alcançados e transformados pela mensagem de Cristo, tornaram-se testemunhas, no discurso e na prática, do evangelho integral. São aqueles que, a partir da experiência transformadora da igreja em Antioquia, foram chamados de cristãos. São homens e mulheres, adultos e crianças, tanto judeus quanto gregos, além de outros povos do contexto geográfico do Império Romano. São os seguidores de Jesus com uma postura não passiva da fé e uma experiência religiosa que muda não apenas o coração. São os que têm uma visão transformadora e renovada da vontade de Deus, tanto pessoalmente como para todas as dimensões da vida em sociedade e cultura. São estes, portanto, os acusados.

2. QUE TEM TRANSTORNADO O MUNDO... Que transtorno é esse? Qual é a natureza da acusação que recai sobre estes cristãos? Qual a dimensão dos transtornos provocados por esta igreja de Cristo?

O cerne da causa destes transtornos é a aceitação de Cristo como Salvador e Senhor por parte das pessoas. E sua nova prática de vida desdobra-se num inevitável confronto com a (des)ordem social e cultural, pois eles compreendem a necessidade de serem sal da terra e luz do mundo, efetivamente, para que toda a ordem decaída, desde o advento do pecado de Gênesis 3, seja transformada e submeta-se ao mando e governança de Cristo. Para o bem de toda a criação.

De fato, a acusação era procedente e verificável. Eles de fato estavam transtornando o mundo. A igreja nasce como um espaço de contracultura e produz verdadeiras transformações. E estes transtornos podem ser identificados de várias maneiras, mas destaco aqui apenas três dimensões:

- Transtorno do poder religioso (At 17.1-5)

Muitos são os exemplos de pessoas alcançadas pela graça redentora do evangelho que experimentaram uma nova vida e agora causavam furor naqueles que viviam do poder religioso estabelecido. (At 2. 37-43; 4.31). As pessoas mudavam de vida e passavam a se guiar pelo Caminho que é Cristo, com todas as implicações que isto significa.

- Transtorno do poder político – (At 17.6-8).

Os cristãos passam a reconhecer, agora, de fato, somente Deus e sua vontade como última autoridade. Somente Jesus Cristo é o Senhor. Pedro e João já haviam afirmado que “importa antes obedecer a Deus”. Todas as perseguições que seguiram sob Nero, Diocleciano e todos os imperadores romanos até o final do terceiro século, diziam respeito aos “problemas” causados pelos cristãos em confronto com a (des)ordem injusta e perversa. Por exemplo, a questão da escravidão. O Império vivia e lucrava economicamente com a estrutura da escravidão. Mas os cristãos estabeleceram comunidades livres em que o direito de todos era igualmente reconhecido.

- Transtorno do poder econômico (At 19.23-41)

Aonde os cristãos chegavam, com uma nova visão de como deviam viver amplamente a fé em Cristo, inclusive nas relações econômicas, causavam transtornos para todos quantos se aproveitavam de estruturas comerciais e de trabalho desumanizadoras. Como no exemplo paradigmático da cidade de Éfeso, cuja deusa Diana, supostamente ajudarora das pessoas, é desmistificada como um instrumento de engano e, portanto, de opressão, não de libertação e plenitude de vida. Tal compreensão desencadeou denúncias e perseguições contra os cristãos, chegando quase a linchamentos físicos, por incitação de fabricantes e comerciantes de ídolos, dentre outros.

Muitos outros transtornos podem ser citados: espirituais, físicos e sociais (At 2.42-47; 3.1-10; 5.12-16; 4.32-35); como também a construção de uma estrutura de assistência social para a comunidade, tanto da igreja como de fora dela (At 6.1-7))

Na verdade, os transtornos que os cristãos causavam em nome e pelo poder de Jesus eram vistos como problemas para os que se locupletavam com os poderes político, econômico, religioso, mas para aqueles que experimentam estas mudanças, isso era, de fato, o desfrutar da nova vida que o evangelho produz. As coisas antigas passavam e agora tudo se fazia novo.

A IGREJA VERDADEIRAMENTE AGIA COMO FATOR DE TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDADE.

Estes que têm transtornado o mundo. A igreja que se dispersa a partir de Jerusalém alcançou em pouco tempo todo o mundo conhecido, tanto em sua dimensão geográfica, conforme o mandado de Mateus 28.19 e Atos 1.8, quanto em seus aspectos religioso, social, econômico e cultural. Uma igreja sem muitos recursos, sem templos, mas que ao final do segundo século, contava com cerca de 500 mil cristãos na área do Império Romano.

ELES CHEGARAM TAMBÉM AQUI... Os discípulos foram a todas as partes e firmaram comunidades cristas que mudaram a face do mundo antigo.

Esta expressão – “Eles chegaram também aqui” – pode ser também entendida como uma exclamação de desespero dos acusadores: “Eles chegaram também aqui. Foi-se nosso sossego, nosso bem estar...”. Entretanto, ao conhecerem efetivamente o evangelho de Cristo, mudavam de vida e transformavam as estruturas injustas e perversas de seu contexto. Pois a mensagem de Cristo produz verdadeira redenção e dignidade para todos.

Mas todos estes transtornos, que são na verdade bênçãos efetivas do Senhor para a vida das pessoas e das sociedades, não aconteceram sem transtornos, para os cristãos. Muitas foram as perseguições, violências e mortes sofridas pela igreja. Alguns exemplos: Pedro e João presos e no Sinédrio (At 4. 1-22), apedrejamento de Estevão e também de Pedro (At 14.19ss), a prisão dos apóstolos (At 5.17-42), Paulo e Silas açoitados (At 16.19).

Conclusão

1. “Estes...”. Quem somos nós hoje? O significa nossa identidade de cristãos? Como a sociedade nos vê?

Precisamos desconstruir o que significa ser cristão hoje para muita gente, tanto dentro quanto fora do ambiente da igreja, para que possamos reconstruir nossa identidade à luz do evangelho de Cristo, a exemplo dos primeiros cristãos. Muito da identidade do que a igreja julga ser cristão, precisa ser transformado para se resgatar o sentido do seguimento a Jesus. O “Estes” hoje está domesticado, as vezes secularizado, quando não alienado da identidade de Jesus, a quem afirmamos, verbalmente, seguir e servir. (Lembremos o exemplo corajoso e contundente de Luther King...).

2. Estes que têm transtornado o mundo, os seguidores de Cristo devem formar a igreja do transtorno, a igreja que contraria, contrapõe e depõe as estruturas injustas. Estas produzem erro, maldade, engano. É relativamente fácil ir contra aquilo que é explicitamente oposto à vontade de Deus. No entanto hoje, no contexto mais amplo da sociedade e no ambiente micro da própria igreja, identificar e desmistificar os agentes enganosos e falaciosos que se dizem do Reino de Deus é tarefa difícil e arriscada.

A igreja é convidada e convocada a assumir sua missão de transtornar o Brasil e o mundo. A partir de nossas comunidades locais, dos espaços em que vivemos, alterando os indicadores sociais injustos, as políticas que não produzem vida e bem-estar para todos. Pensar global e agir local... (At 1.8).

É convocação para, em parceria com entidades evangélicas e outros atores sociais comprometidos com a justiça, transtornar as estruturas legais, nem sempre éticas, para maior efetivação da justiça.

E, finalmente, é preciso que o evangelho continue a transtornar a nós mesmos, nossas estrutruras, nossa religiosidade, nossa teologia, nossa eclesiologia, nossa liturgia, nossa diaconia, muitas vezes voltadas para nós mesmos, para que produzam justiça para fora. E as pessoas vejam as nossas boas obras, em nome de Cristo, e glorifiquem a Deus Pai que está nos céus e entre nós.


Clemir Fernandes

A coragem de Maria no mundo de Marta


"... Então, se aproximou de Jesus e disse: Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir sozinha? Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me. Respondeu-lhe o Senhor: Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só cousa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada." Lucas 10 : 38-42
A narrativa de Lucas é breve: em uma de suas andanças, Jesus entra num povoado, e uma mulher chamada Marta o recebe em sua casa. Acontece que Marta tinha uma irmã, Maria, a qual simplesmente assenta-se aos pés de Jesus para ouvi-lo. Enquanto ela está bem tranquila, a outra (Marta) fica com todo o trabalho e corre de um lado para o outro com os afazeres domésticos, cumprindo o papel que lhe era reservado. Até que não agüenta mais, reclama e pede o apoio do Mestre. Jesus, porém, não diz nem faz o que ela gostaria.

A história incomoda, pois não é certo que uma fique “no bem bom”, enquanto a outra se encarrega de tudo sozinha. Também a atitude de Jesus nos causa desconforto, porque esperamos que ele fique do lado de Marta, com quem nos parecemos tanto. Afinal, e em tempos modernos, “correr” é a nossa especialidade! Dormimos pouco porque ficamos trabalhando até tarde. Acordamos cedo porque há “milhões” de coisas pra fazer. Paramos quase nunca e aceleramos cada vez mais. Assumimos mais responsabilidades do que deveríamos. Exigimos muito dos outros porque somos cobradas o tempo todo.

Fazemos muito, mas não nos sentimos plenamente reconhecidas, pois basta que um homem diga ou faça a mesma coisa e a maioria dará ouvidos, especialmente as mulheres. Arrumamos novos problemas e ainda não conseguimos resolver os antigos. O mundo cobra demais e nós nos cobramos na mesma medida, senão mais ainda. É por isso que a história contada por Lucas nos afeta tanto: o gesto e a quietude de Maria nos dizem o que não queremos ouvir.

Primeiro, as intenções de Marta eram boas e o que fazia tinha, sim, grande importância, mas talvez não fosse o mais importante naquela hora, para aquele momento! Como é difícil isto: avaliar o que realmente importa em alguns momentos específicos da nossa vida e tomar a atitude certa em relação ao que vamos fazer. A oportunidade era para as duas irmãs, mas apenas uma julgou ser único aquele momento que a vida lhe proporcionava: parar as outras coisas por algum tempo e fazer o que o coração mandava. Sem culpa. Sem medo. Com coragem. Apenas uma delas não perdeu a oportunidade que lhes fora concedida.

Segundo, a atitude de Maria quebra as expectativas ao apropriar-se do conhecimento, pois ouve o que Cristo tinha para ensinar, em tempos de desvalorização feminina. Sócrates, por exemplo, considerava a mulher um ser estúpido, enfadonho. Os seguidores de Buda não podiam nem mesmo olhar para ela. No mundo bíblico ela era pecadora e mentirosa “por natureza”, um “bem”, assim como os animais. Os doutores não lhes explicavam a lei. Assim, eram excluídas também do campo do saber. O conhecimento é sempre libertador e provoca mudanças pessoais, familiares, sociais e religiosas.

A princípio, a reação de Jesus soa injusta e facilmente uma pontinha dentro de nós o condena, pois não gostamos da crítica que ele faz à Marta. Contudo, era preciso que aquela mulher que cuidava tão bem do trabalho, aprendesse a cuidar também de si mesma. Ele sugere a ela que o trabalho não devia sobrepor-se à dimensão divina e nem a ela mesma. Cristo lhe oferece a oportunidade do crescimento interior, pessoal, espiritual.

Na sociedade moderna, a história de Marta e Maria sinaliza a crise de muitas mulheres que se sentem divididas entre o quintal e a rua; a maternidade e a vida profissional; a casa e trabalho; os filhos e os negócios; a igreja e o “único tempinho pra ficar em casa”. Uma delas teve iniciativa, mas só a outra conseguiu ver o quanto aquele momento era único e que as muitas atividades não tinham sentido, se não levassem aos pés do Mestre, mesmo que fosse para ouvir o que não queria.

As mulheres continuam sendo as maiores responsáveis pelos trabalhos domésticos e, no Brasil, o número das que sustentam a casa aumenta a cada ano. Elas circulam por todos os lugares, mas pode ser que o espaço interior continue aflito por um motivo bem simples: não é possível ter dupla, tripla jornada, fazer quase tudo sozinha, mal ter tempo para si ou para os filhos e achar que tudo está indo muito bem. Ledo engano!

Não sou feminista. Não sou “machista”. Apenas creio que as mulheres, assim como os homens, podem ser brilhantes em casa ou fora dela. Contudo, precisam reavaliar suas prioridades, valorizar mais a presença divina, buscar conhecimento e poder contar com a cumplicidade masculina, mas isso é assunto para outra reflexão.
(Autora: Selma Almeida Rosa )

Estudo: Eu, Um Parceiro de Deus na Comunidade

Eu, Um Parceiro de Deus na ComunidadeEstudo 1: Cuida do que é Teu
Dinâmica1. Objetivo: Despertar nos alunos o sentimento de que eles têm muito a oferecer.2. Tempo aproximado: 15 minutos.3. Materiais utilizados: Som, CD com músicas suaves e berimbau.4. Desenvolvimento:* Com os alunos dispostos em círculo, ao som de uma música suave, um aluno entrega o berimbau para outro dizendo: "toma que é teu, o que você tem para oferecer?"* O outro aluno recebe e, sabendo que o berimbau é um instrumento sagrado, diz algo que lhe é possível oferecer. Passa para o colega seguinte fazendo a mesma pergunta, e assim sucessivamente.* Comentários sobre a atividade: No início o grupo ficou inibido, depois foi se descontraindo e concluiu a dinâmica com a certeza de que todos têm muito a oferecer para comunidade e seu próximo.* Perguntas que podem serem feitas: "O que você têm para oferecer a comunidade do Pilar?", "O que você têm para oferecer a sua família?", "O que você têm para oferecer ao grupo de discipulado?", "O que você têm para oferecer as pessoas que estão a sua volta?" etc.Estudo 2: Eu um Parceiro de Deus na ComunidadeTextos bíblicos: Ez 22: 30, 1 Co 3: 9 "Busquei entre eles um homem que tapasse o muro e se colocasse na brecha perante mim, a favor desta terra, para que não a destruísse; mas a ninguém achei. Por que de Deus somos cooperadores..."I. Introdução: Galera se liga só na parada. Deus, sempre esteve em busca de alguém que fosse seu ajudante, ou seja, cooperador. Desde as antigas Deus procurou pessoas que o representassem de forma especial, mas Ele tem encontrado poucos chegados para participar com Ele nessa grande obra.Nesse tempo aqui em Jerusalém o povo estava passando por: crises financeiras, espirituais, morais, políticas e de pessoas para se colocarem diante da brecha. Hoje não é muito diferente dessa época, mas as crises são as mesmas.II. O que significa ser cooperador?A) O que é preciso para ser cooperador? (Deixe os discipulandos falarem). Resposta: (Jo 3:16).B) O que nos impede de sermos cooperadores? (Pecado. Fala sobre Adão o primeiro cooperador).C) Por que não há muitos cooperadores hoje? (deixe os discipulandos falarem sobre o que eles acham).D) Há necessidades na comunidade onde nós podemos cooperar? Sim ou não, quais são? (lembre-se, Deus faz aquilo que nós não podemos fazer).E) Há necessidades na sua família onde você pode cooperar?Bem Deus, conta com você para que a comunidade, sua família seja restaurada por Ele. E aí qual vai ser sua resposta pra Ele? Não ou sim. Muita coisa pode ser mudada só precisa nós se ligarmos na fita, pois nosso mano Jesus está em busca de uma galera para mudar a história de outros chegados. É por isso que estamos aqui. Deus ama você e quer te usar como instrumentos em suas mãos.Obs. Finalizar com uma música e oração.Estudo 3. Filme "Duelo de Titãs".Estudo 4. Debate sobre o filme.Material organizado por Cleiton Souza